segunda-feira, 31 de maio de 2010

Equipa de Rua da Cruz Vermelha de Braga

Procura-se Esperança

Trabalham 365 dias por ano. Para muitos são a única família, o único apoio, a réstia de esperança depois de a vida lhes ter trocado as voltas, de os ter atirado para a margem da sociedade. Há sete anos a tentar dar resposta às necessidades de quem mais precisa, a Equipa de Rua da Cruz Vermelha de Braga percorre todos os dias vários pontos da cidade, confrontando-se com os mais diversos tipos de problemas sociais.



São oito horas. A tarde que nestes dias de Primavera nos contempla com um pouco mais de luz, ainda agora começou a cair. Junto ao Parque de Exposições de Braga são muitos os que, de olhar perdido sobre um mundo que poucas oportunidades lhes tem oferecido, esperam pela ajuda da Carrinha da Equipa de Rua. Num silêncio que cala duras realidades, aguardam impacientes pelas poucas pessoas que não os olham com reprovação. A sorte abandonou-os há muito.

Depois de um pequena longa espera, avista-se, ao longe, a carrinha da Equipa de Rua. Tudo se agita. De sorriso nos lábios, os heróis desta história abrem as portas e cumprimentam aqueles que se encontram por aqui. Já lhes conhecem os nomes, as histórias.

José Maria Rodrigues vem cá todas as noites. Bem vestido, bom falante, num primeiro olhar nem ninguém imagina a luta que trava todos os dias. Pintor de profissão, todo o ordenado ganho é gasto para alimentar o vício, que o obrigou a recorrer a esta ajuda e que, há pouco tempo, o levou a fazer da rua o seu único abrigo. Amarrado à droga, da qual já se tentou libertar tendo, no entanto, sofrido nova recaída, estas refeições têm para ele um significado muito especial.




Na traseira da carrinha vai-se construindo, aos poucos, uma fila que vai crescendo com novas histórias de vida, com um novo problema social, o desemprego.

Lá dentro, os nossos heróis, os voluntários, distribuem os alimentos. A cada um dão uma refeição, e uma palavra cheia de esperança. Para casa levam o sentimento de terem cumprido mais um dia a sua missão, ajudar os que mais precisam.

Nuno, de 21 anos juntou-se à equipa há cerca de um mês, mas há muito que procurava integrar este projecto. Chocado com a realidade dos que pouco ou nada têm, não quis deixar que estas histórias lhe passassem ao lado, como a tantas outras pessoas.





Já com a refeição, alguns apressam-se a ir embora. Não querem ferir um orgulho já muito marcado pelas dificuldades impostas pela vida. Outros ,pelo contrário, preferem ficar por aqui. Enquanto jantam partilham experiências, conversam com os voluntários, sentem que não são os únicos a quem a vida atraiçoou.

José Miguel é uma das pessoas que está por cá hoje. A morte do pai e as dificuldades financeiras que obrigaram mãe a abandonar a casa onde habitavam para se refugiar num lar, não lhe deixaram escolha. É na Cruz Vermelha que encontra um importante apoio para seguir em frente.





Para além da distribuição diária, três vezes por dia, de alimentos, o Projecto Aproximar, no qual se insere a Equipa de Rua, presta inúmeros serviços aos seus utentes. Nuno Gomes, de 26 anos, faz parte deste projecto desde o seu arranque e realça a importância destes apoios para colmatar as necessidades que vão surgindo.





O sino da igreja anuncia agora as nove horas. Aos poucos, o espaço vai ficando vazio. Júlio Manuel da Silva é um dos poucos que ainda está por cá. Desempregado e com problemas com o álcool, emociona-se ao contar a sua história. Desabafa. Na sua voz nota-se um nó que não quer desatar, que não consegue ser desatado. No álcool diz que encontrou um refúgio, que outros encontram em outros vícios. Há um ano que recorre à ajuda da Equipa de Rua da Cruz Vermelha e é com carinho que se refere aos voluntários, a estes pequenos heróis.





Falta-lhes aquilo que outros têm de sobra. Falta-lhes tantas vezes aquilo que o dinheiro não compra, aquilo que qualquer um podia dar, ao dispensar apenas uns minutos do seu tempo. Mas a sociedade, diz José Maria Rodrigues, é demasiado egoísta. Esquecem que um dia podem estar do outro lado.





Num passo apressado, chega mais um olhar perdido, ansioso por encontrar esperança. Só que hoje vai de mãos vazias. A afluência a esta ajuda é cada vez maior e os alimentos, que deviam chegar para percorrer os sete pontos da cidade, esgotam-se ainda no primeiro. Um olhar que chegou perdido vai ainda mais vazio, porque a ajuda esta noite, como as oportunidades, parece não ser suficiente para todos.

Apesar dos esforços que os voluntários fazem para ajudar todos os que precisam, eles estão dependentes da colaboração de terceiros na recolha dos alimentos para distribuir. Queriam poder mudar o mundo mas sozinhos não são capazes e por isso é tão importante que mais pessoas se unam para doar aquilo a que estas pessoas faz tanta falta.





A importância deste projecto parece ser inquestionável. Quando outras ajudas falham e às instituições faltam apoios para dar resposta a todas as necessidades, a Cruz Vermelha parece assumir um papel indispensável junto daqueles que mais precisam.





São agora dez e meia. Esta noite, o trabalho da equipa acaba mais cedo. Nos outros pontos da cidade mais olhares perdidos procuram uma esperança que hoje não chegará.

Mas amanhã é outro dia e a equipa partirá de novo, bem cedo, percorrendo as ruas para continuar a cumprir a missão a que se propôs.


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